Minha mãe chegou da rua com uma pequena caixa, toda escrita em japonês. Impossível descobrir o que era. Aos poucos, foi tirando da caixa. Era um despertador japonês.
Tocava uma música que mais parecia um sorriso de gueixa. Ficamos encantadas.
Meu pai estava fora, a trabalho. Fomos para cama bem cedo. Dormimos no mesmo quarto. Os irmãos maiores trouxeram seus colchões e, meu outro irmão e eu dormimos na cama grande.
Estávamos extasiados. Tínhamos em casa um objeto que fora fabricado do outro lado do mundo.
Depois de vencermos a ansiedade, dormimos. Quando acordamos, o sol estava alto.
Minha mãe achou melhor trocá-lo por outro, menos encantador, mas que despertasse.
Pedimos a ela que não o devolvesse. Bastaria enxergá-lo de outra forma, como uma caixinha de música que marca horas, mas não a convencemos.
Resoluta, ela voltou à relojoaria e o trocou por um outro que, de tão barulhento, passava as noites dentro do guarda-roupa, para abafar o som ensurdecedor de cada segundo.
Mais uma vez minha mãe estava certa. Se tivéssemos transformado o despertador japonês em caixinha de música, para sempre sentiríamos falta de um rodopiar de bailarina.