Se me esvaísse em sangue esta noite, minhas veias sorririam aliviadas. Secariam feitas rio em tempo de estiagem e ainda ocorreria um silêncio ensurdecedor em todo o mundo. Também sentir-me-ia aliviada, emitindo um som agudo. Daqueles que só acontecem quando dormem nossas crianças. Um som que vibrasse e deixasse por segundos o meu corpo em forma de z. Ou, quem sabe, criar um hieróglifo que, nem em duzentos anos de estudo, seria decifrado. E, se o fosse, seria algo de tão profundo, que seria traduzido em todos os idiomas e ensinado nas escolas. Ainda não consegui dizer o meu nome, é que o nome que eu tenho não se parece comigo. Queria lhe falar sobre coisas comuns, passar-lhe uma receita de mousse e, se tivesse mais intimidade, pedir-lhe um raio de sol. Mas eu não quero daqueles pequenos que iluminam as janelas dos asilos. Quero um bem grande, para iluminar o que sou, por dentro e por fora. (Extraído do livro “O Adestrador de Sentimentos” de Stella Tavares Publicado em 2007)